
RELATO SOBRE LÍVIO VALENÇA, POR MARIA LÍVIA VALENÇA (“HISTÓRIAS QUE MEU PAI CONTOU”- 2ª Edição):“12 de junho de 1916. O mundo vivia a Primeira Guerra Mundial. O Presidente do Brasil era Venceslau Brás e, em Pernambuco, fora eleito governador, Manuel Borba, depois de uma cena política agitadíssima, em que tiroteios e emboscadas eram corriqueiros entre os caciques Rosa e Silva e Estácio Coimbra de um lado, e o interventor federal, Dantas Barreto, de outro. Mas na pacata fazenda Beira-Mar, situada entre Pesqueira e São Bento do Una, no Agreste Meridional de Pernambuco, abria os olhos para a vida, Lívio de Souza Valença.Muito vaidoso, papai primava pela elegância. Só usava terno da moda e sapatos de cromo alemão. Mais tarde, como médico, nunca tirou o paletó, nem para atender os clientes nos mais longínquos rincões. Quando ingressou na Faculdade de Medicina, em 1936, foi um dos alunos mais brilhantes de sua turma. Amanhecia o dia lendo os compêndios de medicina com os pés dentro de uma bacia com água fria para evitar o sono. Formou-se em 1942 e, primeiramente, abriu o consultório em Pesqueira. É curioso como papai sempre teve um pé em São Bento e o outro em Pesqueira, seus dois amores. Mas passou lá pouco tempo, sendo atraído por São Bento onde morava a maior parte da família, inclusive sua prima legítima Maria Odete, com quem se casou em 1944, para não fugir à tradição: Valença só casava com Valença.Teve quatro filhos, todos são-bentenses: Luciano, eu, Ale- xandre e Luís Artur.Em 1947, tomou um vapor e foi para o Rio de Janeiro se especializar em Pediatria. Chegou a trabalhar num importante hospital, mas eu adoeci gravemente e ele teve que retornar.De volta a São Bento, retomou seu consultório.Em 1947, papai foi convocado pela família a se candidatar a prefeito. Foi eleito o primeiro prefeito de São Bento depois da redemocratização do país, e, em 1950, foi eleito deputado estadual, no lugar de tio Décio, que desistira da política. Aí não parou mais até 1978.Como prefeito, papai colocou a primeira pedra de calçamento de São Bento, construiu praças, grupos escolares, açudes e diversas outras obras, deixando dinheiro em caixa, ao sair da prefeitura.Como deputado, foi um incansável representante de São Bento do Una, com uma vasta lista de serviços prestados. Foi um ardoroso defensor da democracia, quando, em pronunciamentos ousados, ironizava a ditadura utilizando eufemismos e metáforas nos seus pronunciamentos.No pleito eleitoral de 3 de outubro de 1958, apesar de ter recebido 3.611 sufrágios, para a época uma votação fantástica, não foi eleito, ficou na segunda suplência. É que a legenda do Partido Social Democrático (PSD) havia crescido muito e o número de eleitores de São Bento ainda era muito pequeno. Mas foi convocado onze vezes a exercer o mandato de deputado na ausência de seus titulares até que, finalmente, tornou-se deputado efetivo com a renúncia de Tabosa deEm 1962 foi eleito deputado pela legenda do Partido Republicano (PR).Exerceu a medicina durante 45 longos anos e visou, prioritariamente, aos mais carentes.Seu comportamento como médico sempre foi o mesmo, antes de ingressar na política. Portanto, quando atendia os pobres sem cobrar, não pensava em voto, porque sempre exerceu a medicina com fervor religioso.Seus grandes amigos em São Bento foram Zé Bico, um mo- torista profissional, Marcelino, uma combinação de pedreiro com seresteiro, Joaquim Costa, o dono da Farmácia do Povo, o advogado Altino Soares da Rocha e seu compadre Álvaro Esteves Braga.Depois da sua morte (em 15 de agosto de 2003), sua presença continua viva. É que ele colocou um ingrediente muito importante na sua política: o afeto.”

Prefeito

Vice-Prefeito

Secretário de Infraestrutura














